Mercado deve aperfeiçoar assessment de riscos durante o processo de subscrição
Fonte: https://riscosegurobrasil.beehiiv.com/p/seguradoras-ignoram-gest-o-de-riscos-das-empresas
Evandro Zequin, da Klabin, também cobra que seguradoras ajustem seu apetite de risco de acordo com os esforços de prevenção feitos pelas empresas

Evandro Zequin, gerente de Riscos Operacionais e de Seguros da Klabin (Crédito: Divulgação)
Consultoria de riscos ainda tem que avançar no mercado de seguros
O mercado de seguros pode estar falhando em uma de suas principais missões: ajudar os clientes a melhorar suas práticas de gerenciamento de riscos.
Evandro Zequin, gerente de Riscos Operacionais e de Seguros da Klabin, acredita que as seguradoras poderiam fazer mais na prestação de serviços de consultoria, ainda durante o processo de contratação da apólice, a fim de auxiliar as empresas a aprimorar suas políticas de prevenção e reduzir exposições a riscos.
Com isso, o setor avançaria bastante na busca de soluções para a falta de apetite do mercado por alguns dos riscos mais importantes para as grandes companhias brasileiras.
Eu sinto falta de que as seguradoras façam assessments dos riscos dos segurados, de que elas façam um esforço maior para conhecer e apresentar soluções de gerenciamento de riscos dos clientes.
Para ele, esse processo de cobrança já está em movimento. Zequin considera que as empresas estão estruturando departamentos de gerência de riscos e de seguros cada vez mais profissionais, e como resultado disso a relação com os subscritores também está evoluindo. Cabe a estes acompanhar os compradores nesse caminho.
“Nós já não estamos aqui só para contratar uma apólice, que é algo relativamente fácil”, alerta ele. “Esperamos uma contrapartida das seguradoras, que muitas vezes têm uma presença internacional e uma experiência global sobre a mitigação de determinados riscos. A carência de consultoria de riscos atrelada à apólice em ramos que não são os riscos operacionais é cada vez mais evidente para o comprador.”
Apetite pelo risco
Zequin, que também é membro da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), ressalta que um maior envolvimento das seguradoras ajudaria a mitigar a falta de apetite que o mercado mostra por alguns setores econômicos.
É uma situação que ele conhece bem. Zequin acredita que empresas de papel e celulose podem estar sendo tratadas da mesma maneira pelas seguradoras, não importando o esforço feito na mitigação de riscos. Como resultado, seguradoras chegam a declinar um risco simplesmente porque na planta há um equipamento que consideram crítico. Para ele, porém, poderia haver um maior esforço para entender as exposições de riscos de cada cliente.
Zequin explica que as companhias do setor dependem de máquinas de grande porte em suas instalações. No entanto, é difícil encontrar no mercado players com apetite por esse tipo de risco e capacidade para liderar um programa de seguros. Trata-se de equipamentos que exigem limites elevados, e cuja composição da colocação muitas vezes não é simples, observa.
O mercado evoluiu muito no assessment de riscos envolvendo a apólice de riscos operacionais, mas não vejo esse mesmo ritmo de análise de risco em outros ramos, como as apólices de responsabilidade civil.
Ele ressalta que as exposições não justificam o fato de que as seguradoras acabem prestando pouca atenção às medidas adotadas individualmente pelas empresas para mitigar seus riscos.
“Hoje a tecnologia nos traz uma segurança muito grande”, diz Zequin. “Equipamentos considerados críticos pelo mercado segurador possuem sistemas de segurança que no passado não existiam. Atualmente temos muitas maneiras de mitigar e evitar os riscos da operação. A probabilidade de ocorrência de sinistro acaba sendo menor, até mesmo na comparação com equipamentos menos críticos usados em outros segmentos.”
Normas locais e internacionais
Ele acrescenta que uma companhia como a Klabin coloca muita ênfase na aplicação de standards internacionais de segurança e gestão de risco, além das próprias normas brasileiras e daquelas que são recomendadas pelos fabricantes.
Consultorias especializadas e até mesmo seguradoras, através de seus serviços de assessoria em gestão de riscos, muitas vezes participam desses processos e ajudam a evitar os sinistros, diz ele.
Ainda assim, entendo que algumas seguradoras globais poderiam desenvolver mais seu apetite para os riscos de alguns setores. Elas poderiam levar em consideração o programa de mitigação de riscos empregado em cada unidade industrial, e não apenas o seu segmento industrial.
Riscos ambientais, cibernéticos e de transportes
Um ramo desafiador, hoje, é o seguro florestal, que tem sido bastante impactado por queimadas no Brasil e no exterior, o que vem exaurindo o apetite pelo risco por parte de seguradoras e resseguradoras.
Zequin também observa que o risco ambiental é muito importante para o setor, assim como os seguros de responsabilidade civil, que demandam um gerenciamento de riscos apurado com vistas a garantir a segurança dos trabalhadores.
Da mesma maneira, a crescente conectividade dos equipamentos industriais é um fator determinante, exigindo maior cuidado na prevenção de riscos cibernéticos e a aquisição de coberturas de seguros para qualquer eventualidade. Zequin afirma que o mercado cibernético está mais amistoso para os compradores, o que possibilita a disponibilidade de coberturas e limites mais robustos.
Outra área relevante para o setor é a gerência de riscos e seguros de transportes, já que as empresas de papel e celulose muitas vezes enviam bobinas que pesam toneladas para os clientes.
A transferência dos riscos dessa atividade trouxe uma maior necessidade de gestão devido as novas regras para os seguros de transportes, mas Zequin diz que não está tendo problemas para estruturar a capacidade necessária.
Da prevenção de sinistros à gerência de riscos seguráveis
Formado em engenharia eletrônica, Zequin entrou no mercado segurador pela Porto Seguro e aprofundou seu contato com a gestão de riscos durante um curso de pós-graduação em engenharia de segurança no trabalho na USP e um MBA em em Seguros e Resseguros pela Escola Nacional de Seguros (ENS).
Ele também passou pela área de loss prevention na RSA, onde se dedicou à realização de inspeções de riscos em empresas.
“Foi então que eu me apaixonei mesmo pelo gerenciamento de riscos”, diz ele.
O próximo passo foi a Klabin, empresa em que trabalha já há 16 anos. Neste período, Zequin diz ter visto uma evolução positiva na estruturação da gerência de riscos e seguros dentro das empresas.
A função está evoluindo também na medida em que as empresas se tornam mais conscientes de suas exposições de riscos, um processo que se acelera com a sucessão de eventos catastróficos que vêm ocorrendo no Brasil e no mundo.
Empresas listadas na Bolsa de Valores ou que lidam com parceiros comerciais em outros países também sentem uma motivação extra para investir na função.
“Nossos clientes internacionais exigem gerenciamento de risco. Eles perguntam sobre os sistemas protecionais, que visam a continuidade operacional das plantas deles”, afirma.
Também falta potencializar tecnologia no setor
Com o aumento das responsabilidades dos gerentes de riscos e seguros, e as complexidades inerentes à função, o apoio de corretores e seguradoras se torna um fator primordial para que realizem o seu trabalho.
Para Zequin, esse apoio poderia se traduzir também na introdução de ferramentas tecnológicas que facilitem a vida dos profissionais da área.
O mercado poderia melhorar em termos de tecnologia. Os sistemas das seguradoras estão ultrapassados. Como cliente de grandes riscos, não dispomos, por exemplo, de um portal para visualizar as nossas apólices, gerar os relatórios, trocar documentos etc. Ainda dependemos de enviar muitos e-mails e esperar pelas respostas.
Isso não precisa ser assim. Ele nota que outros setores já oferecem ferramentas como dashboards em que as informações dos clientes são facilmente acessáveis e podem ser trabalhadas sempre que necessário.
“Mas ainda vemos grandes corretoras tratando tudo na base do e-mail e da reunião. Quando se fala de grandes volumes de documentos, o mercado deveria pensar um pouco mais nisso”, diz ele. “Eu deveria poder entrar no portal da seguradora e conferir os certificados, se a minha apólice ou endosso já foi emitida ou outros serviços administrativos. As seguradoras têm a capacidade de investir nisso, o que falta é fazer essa escolha.”
Uma nova lei que deve incrementar os desafios
A visão de que o mercado pode fazer mais pelos seus clientes deve ser posta ainda mais à prova uma vez que a nova Lei do Contrato de Seguros entre em vigor, em dezembro.
Zequin vê avanços na nova legislação, principalmente em termos da defesa dos direitos do comprador de seguros, e crê que o mercado vai passar por um período de adaptação, mas acabará se ajustando à lei.
No entanto, também há algumas novidades que não estão bem entendidas pelo mercado, e ainda não se sabe como afetarão o dia-a-dia das dos compradores e seguradoras. Por exemplo, o que se refere aos prazos e à gama de informações adicionais que podem ser solicitadas durante os processos de subscrição e regulação de sinistros.
Zequin acredita que, em um primeiro momento, como resultado da aplicação da nova lei, pode haver uma restrição no número de seguradoras e resseguradoras que participem de determinadas linhas de seguros. Para ele, as seguradoras terão que buscar um maior entendimento sobre os riscos dos clientes, e isso poderá afetar seu apetite.
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